
Vista da exposição A Escatologia do Corpo Glorioso, 2019. Galeria Prego, Porto Alegre/RS.
A Escatologia do Corpo Glorioso
A Escatologia do Corpo Glorioso é uma exposição que explora o duplo significado da palavra escatologia: aquilo que se refere aos excrementos (ou, no sentido popular, um apreço sexual por dejetos e sujeira) e, no sentido filosófico-religioso, uma doutrina que crê no final dos tempos (em oposição aos ciclos infinitos). Ambos significados remetem aos conflitos teológicos a respeito da fisiologia do corpo humano no paraíso, conforme nos relata Agamben: seria concebível que o paraíso fosse conspurcado por um órgão inútil? Ou seja, ao Corpo Glorioso – expressão que se refere ao corpo transfigurado que habitaria o Paraíso após o Juízo Final na crença Cristã – caberia a existência de um simulacro disfuncional de genitais, estômago, ânus, uma vez que os sistemas digestivo e reprodutivo estariam desprovidos de qualquer função? Ou eles seriam eliminados, fazendo com que o Corpo Glorioso não fosse uma cópia fiel daquele moldado pelo Criador? Essas questões, aparentemente tão desprovidas de propósito, se tornam inexplicavelmente pertinentes aos dias atuais.
O sistema digestivo é uma estrutura entrópica que se conecta à organização das espécies neste planeta, mas também signo informe e de contingência de um corpo em contínua transformação biológica, social e cultural, e o direito de falar sobre suas partes ou representá-las, notadamente o ânus, é centro de uma batalha política infindável entre o sagrado e o secular. As obras de Daiana Schröpel, Élle de Bernardini, Gabriela Mureb, Ío, Isabel Ramil, Martin Heuser e Michel Au Hasard refletem essas questões, tratando dos órgãos e processos envolvidos nesse sistema, tanto em seus aspectos formais quanto conceituais e simbólicos.
Ío (Laura Cattani e Munir Klamt), 2019

Vista da exposição A Escatologia do Corpo Glorioso, 2019. Galeria Prego, Porto Alegre/RS.