
Vista da exposição Nham Nham Nham, 2024, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), Sala Augusto Meyer, Casa de Cultura Mário Quintana, Porto Alegre/RS. Foto: Vicente Carcuchinski.
nham nham nham
Sinestesia é o nome dado ao cruzamento de sensações ou sentidos: Uma vibração na pele e uma nota na orelha se confundem, a língua e uma mão se entrecruzam, os pelos do corpo se eriçam em sincronia com a salivação dentro de uma boca.
Há olhos na minha pele e um paladar presente nos meus nervos ópticos, bastonetes e cones e, ao ver textura e cor eu sinto vontade de acariciar um quadro; talvez até de comê-lo. Se não arranho a superfície pictórica ou devoro uma obra por inteiro em uma mordida é obviamente por medo de danificá-lo ou, de talvez, suspeitar – pelo que me sussurra o bom senso – ser uma experiência desconfortável mastigar a madeira do bastidor, algodão, pigmentos variados e gesso. Há uma fome presente mas ela não se origina necessariamente na boca existente entre o meu queixo e nariz. O que quero mas não posso comer é sempre mais gostoso. Imagino de longe qual seria seu sabor: observo a alguns metros, a alguns centímetros de distância, milímetros se possível, sigo as ranhuras rachaduras massas pinceladas formas texturas densidades transparência e consumo com o olhar ao alimentar o insaciável na procura de gostos que não podem ser processados apenas pelas papilas gustativas e a biota do meu corpo.
“Nham nham nham” parte do desejo de deglutir e sentir o sabor imaginário da massa de parafinas tóxicas, bolos de barro deliciosos e pigmentos apetitosos (e possivelmente cancerígenos) de sabor amargo desenvolvidos no último século para cartazes industriais e papéis de bala. Entre o corante, a embalagem e sobras coloridas de petróleo a exposição apresenta uma coreografia de enozamentos entre os sentidos numa sincronia sintética para encorajar a extrapolar suas funções antes pensadas separadas.
Céu Isatto, 2024
Com curadoria de Céu Isatto e Lael Peters, Nham Nham Nham tem como proposta explorar a sinestesia entre visão e apetite: ver obras e sentir vontade de devorá-las. A coletiva reúne artistas emergentes do sul e sudeste, com o objetivo de realizar a articulação com obras integrantes do acervo do MACRS. Parafina, pigmentos tóxicos, tecido, esmalte, silicone e polímeros abrem o apetite do público.
Nham Nham Nham é a água na boca gerada pelo desejo de comer, morder, lamber, mastigar, engolir, absorver, saborear, deglutir. O apetite instigado é resultado de um espaço convidativo: a mesa posta, cumbucas para comida, alimentos têxteis, o brilho da cerâmica e a transparência da embalagem. As obras de Gelson da Silva Soares, Dudi Maia Rosa, Leonardo Fanzelau e Marina Borges, pertencentes ao Acervo do MACRS, e as obras de Artur Ferreira, Carú Brandi, Céu Isatto, Flavushh, Gabriel Pessoto, Guilherme Fuentes, Jéssica Porciúncula, Lael Peters, Michel Au Hasard, Monique Huerta, Natha Calhova, Pauli Carvalho, Toni Graton e Yuki Zarate, artistas convidados, estimulam o cruzamento dessas sensações aqui guiadas pelo olhar.

Vista da exposição Nham Nham Nham, 2024, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), Sala Augusto Meyer, Casa de Cultura Mário Quintana, Porto Alegre/RS. Foto: Vicente Carcuchinski.