
Michel Au Hasard, casa de tijolos, 2023. Fotografia, 15cm x 10cm. Vista na exposição imagine suas paredes, Pequena Galeria, Porto Alegre/RS. Foto: Vicente Carcuchinski.
Michel Au Hasard, casa de tijolos, 2023. Fotografia, 15cm x 10cm. Foto: Céu Isatto.

1. Quando me mudei para Porto Alegre, esse ano, 2023, em março, eu morei numa pensão no primeiro mês. O uso de ambientes comuns, a dificuldade inerente de tarefas simples, tudo isso me estressava e caminhar nas ruas durante esse mês me enraivecia ao ver espaços para vender, espaços vazios. Questões de moradia já me assombravam, eu com trinta anos sem um apartamento, a percepção na cidade de Porto Alegre da especulação imobiliária, pessoas da minha idade que também não tinham um lugar próprio para morar. Eu já estava com a ideia do prédio ao desenhar a casa, pensando em construção, então fiz um movimento familiar, comecei a refletir sobre o elementar da casa, do prédio... o tijolo. E nessa angústia uma brincadeira idiota surgiu: e se eu construísse minha casa? Como não tenho nenhum recurso, um fodido, por assim dizer, construí o tijolo da maneira que eu podia e sabia, com EVA. Já pesquisava EVA, já havia feito a pyramide, recortado olhos para pôr em coisas. Vou fazer olhos, tijolos com olhos, um EVA vermelho bem grosso... Ao terminar um me fascinei com sua textura, do poder carregar algo relativamente pesado com leveza, parecia mesmo um tijolo, um tijolo bobo. Essa foi a ideia principal: construir uma casa da maneira que conseguia. Assim construí tijolos.
2. Questões mais formais do desenho aparecem: desenhar o buraco, criar o padrão de um tijolo com seis buracos. Por gostar de desenhar “carne”, a cor vermelha aliada à minha pesquisa cartunesca me instigou a desenhar línguas, tão expressivas e comuns no universo cartoon. Foi um jogo da casa, de construir a casa. Eventualmente comecei a entender que estava construindo tijolos como peças para ocupar o espaço. Aí entro na questão formal do próprio EVA, a brincadeira, encaixar as peças. Começo então a visualizar montagens com os tijolos: posso colocar no chão, na parede, na altura do chão, amontoar e formar desenhos de casas, muros, espalhá-los pra fazer murais. Enfim, são peças que crio para depois jogar no espaço como eu quiser.